Experts no diagnóstico, mas não em colocar a mão na massa e desenvolver tecnologias para a saúde, médicos, enfermeiros e dentistas convertem-se em CEOs de empresas de inovação do setor, as healthtechs, e abrem vagas para profissionais de outras áreas. Agora, analistas de dados e desenvolvedores de software adentram hospitais e, mesmo longe dos pacientes, revolucionaram práticas de cuidado e tratamentos.
O número de healthtechs aumentou 16% no Brasil entre 2019 e 2022 e chegou a quase 400 empresas, volume em constante expansão, segundo levantamento da plataforma Liga Ventures em parceria com a consultora PwC Brasil. Só nesse período, foram investidos R$ 1,79 bilhão nessas empresas — o Hospital Israelita Albert Einstein, um dos maiores do país, tem um fundo de R$ 100 milhões para healthtechs. Essa efervescência encontra, ao mesmo tempo, um mercado de TI aquecido, com previsão de 673,5 mil novas vagas até 2025, de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Em 2020, o Ministério da Economia incluiu a profissão de analista de informação em saúde na Classificação Brasileira de Ocupações, que lista os trabalhos reconhecidos no país. Os profissionais do ramo, que também podem ser médicos e enfermeiros, recolhem e analisam dados de pacientes e instituições de saúde em grande volume para alimentar e aprimorar softwares que auxiliam gestores, por exemplo, a tomar decisões.
No desenvolvimento dos softwares para a saúde, o desafio de hospitais e healthtechs é a competição com outros setores que também têm alta demanda por programadores. “Os algoritmos são os mesmos que funcionam em todas as áreas, então as healthtechs competem com bancos e conglomerados internacionais”, pontua o diretor do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Chiavegatto Filho.
Ainda assim, alguns hospitais também têm conseguido atrair profissionais. Hoje, a Santa Casa de Belo Horizonte, por exemplo, possui uma equipe interna dedicada ao desenvolvimento de tecnologia para o dia a dia da instituição. “Quando algum gestor tem necessidade de um software, vemos se tem no mercado e, se não ou se for mais barato, desenvolvemos aqui”, explica o gerente de planejamento da Santa Casa, Isaque Costa.
Ao mesmo tempo, a academia trabalha para popularizar soluções. No Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde da USP, cerca de 30 pesquisadores desenvolvem alternativas de aplicações práticas para o dia a dia de hospitais. “Temos pesquisadores desenvolvendo algoritmos para melhorar o prognóstico de câncer, calculando a gravidade da doença, o risco de o paciente morrer no próximo ano. Dadas as características de como o bebê nasce, os algoritmos aprendem a identificar o risco de morte neonatal. Eles podem ser otimizados para diferentes áreas e nosso objetivo é disponibilizá-los gratuitamente”, resume o diretor do laboratório, Alexandre Chiavegatto.