Bruno Rennó foi um dos observadores que registrou o animal; presença da espécie na região pode ser explicada por um possível erro de cálculo na rota migratória. O indivíduo ocupou uma extensa área utilizada para o plantio de arroz
Bruno Rennó/Arquivo Pessoal
Em janeiro deste ano alguns observadores de aves tiveram a sorte de um registro raro: observar uma coscoroba (Coscoroba coscoroba), também conhecida como capororoca, no município de Guaratinguetá (SP), no Vale do Paraíba Paulista. A raridade se faz pela área de ocorrência da espécie, que vive no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, podendo ser encontrada também no centro-oeste do País durante o inverno.
O biólogo especialista em aves, Bruno Rennó, foi um dos cerca de 40 observadores que visitaram a região em busca do flagrante, o primeiro registro da ave no Vale do Paraíba paulista e o sexto município do estado de São Paulo com passagem da espécie. “Para mim foi um momento extremamente importante e especial! Eu já tive a oportunidade de observar mais de 1400 espécies de aves brasileiras e a coscoroba era nova para a minha lista. Eu não poderia perder essa oportunidade, super rara para a região!”, conta.
Observadores do sul de Minas Gerais, de diversos locais do estado de São Paulo, incluindo a capital, e do estado do Rio de janeiro foram ao local em busca do flagrante
Coscoroba é classificada como uma espécie de cisne
Bruno Rennó
O único indivíduo da espécie, que no Brasil é classificada como um cisne, ocupou uma extensa área utilizada para o plantio de arroz, conhecida como Colônia do Piaguí, e ali permaneceu por quinze dias, entre o período de 07/01/2021 a 21/01/2021. “Durante esse tempo eu visitei a região em três ocasiões diferentes e nas duas primeiras consegui observar, fotografar e filmar a ave. Em minha última visita, no dia 23, percorri grandes extensões acompanhado dos observadores de aves Rafael Moreira, Lucas Bassi e Marco Antônio, mas não a encontramos”, conta.
De acordo com Rennó, no dia anterior os agricultores realizaram a drenagem do local para fazer o plantio do arroz. “Muito provavelmente por esse motivo algumas espécies podem ter abandonado o local e, desde então, não tivemos mais notícias da capororoca na região”.
Os dias de observação, no entanto, renderam flagrantes detalhados da espécie, que possui plumagem branca com a ponta das asas pretas e envergadura de dois metros. “A ave gostava de permanecer nas áreas mais abertas do arrozal, onde havia extenso espelho d’água. Lá, costumava nadar e se alimentar”, lembra.
A coscoroba é migratória durante o inverno, podendo fazer movimentos de até 1700 km em linha reta
Bruno Rennó/Arquivo Pessoal
“Também dedicava longos períodos ‘penteando’ com o bico a plumagem. O indivíduo se mostrava bastante tranquilo e todos que foram até lá conseguiram belíssimas observações e imagens”, ressalta Bruno, que em algumas ocasiões viu o animal próximo de outros grupos de marrecas, como a caneleira, marreca-cabocla e o irerê.
A presença da espécie na região intriga, mas pode ser explicada por um possível erro de cálculo na rota. “A coscoroba é tida como espécie migratória durante o inverno, podendo fazer movimentos de até 1700 km em linha reta. Porém, o registro de Guaratinguetá está fora da época de migração, por isso, provavelmente se trata de uma ave vagante. Isso costuma acontecer em espécies que percorrem longas distâncias: às vezes, por algum motivo, elas se perdem e vão parar muito longe das suas áreas de ocorrência natural”, explica.
Macho e fêmea da espécie se diferem pelo tamanho sendo os machos maiores, com até 115 centímetros, enquanto as fêmeas não ultrapassam os 68 centímetros. O peso também varia, de 4,6 quilos para 3,8 quilos, respectivamente
A presença da espécie na região intriga, mas pode ser explicada por um possível erro de cálculo na rota
Bruno Rennó/Arquivo Pessoal
Acostumada a viver em lagos, pântanos e banhados com pouca profundidade e vegetação alta, a coscoroba é onívora: se alimenta tanto de vegetais quanto de pequenos animais e insetos, capturados nas margens de lagos e rios.
No período reprodutivo a espécie constrói um ninho grande no solo, em meio à vegetação alta, sempre próximo à água. O centro, coberto de plumas, recebe de quatro a seis ovos incubados por 35 dias.
Observações raras
Além do registro da coscoroba, Rennó destaca outros encontros marcantes com espécies não tão comuns na região. “No ano passado registramos o flamingo-chileno por lá! Outros registros que se destacam são: marreca-de-coleira, migrante de inverno vinda do sul do país; marreca-colorada, migrante do hemisfério norte, com escassos registros no Brasil; tuiuiú; maguari e diversos maçaricos migratórios vindos do hemisfério norte. Agora só nos resta esperar e procurar para ver o quais outras surpresas os arrozais vão nos mostrar!”, completa Bruno.
Perdidas do bando, aves migratórias raras são encontradas no Rio de Janeiro e em São Paulo