Sem emprego e com contas atrasadas, moradores de comunidades carentes dependem de doações na pandemia. Contribuições para a Cufa caíram cerca de 70%, segundo coordenadora. Um mapeamento da Central Única das Favelas (Cufa) de Campinas (SP) aponta que seis em cada 10 famílias da periferia enfrentam dificuldades para comprar alimentos em meio à pandemia da Covid-19. A instituição ouviu cerca de 1 mil famílias que residem em favelas da metrópole; dessas, 600 afirmaram passar por problemas financeiros que têm afetado a compra de itens básicos.
“As nossas doações caíram em média 70%. A demanda aumentou com o fim do Auxílio Emergencial, a procura aumentou, os pedidos de ajuda aumentaram […] Eu sei que a fome existe para todos, mas a gente chegou ao ponto de escolher as famílias que nós vamos ajudar”, relata a coordenadora da Cufa em Campinas e na RMC, Michele Eugênio.
Para tentar diminuir o sofrimento, a Cufa tem cadastrado o maior número de famílias possível no programa “Mães da Favela 2021”, que tem como objetivo mobilizar a sociedade para auxiliar mães solos no enfrentamento dos impactos da pandemia. Além disso, os moradores são orientados a ingressar, sempre que possível, nos programas sociais da prefeitura.
‘A fome é agora’
Para a assistente social e pesquisadora Marli Elisa Nascimento Fernandes, a pandemia acentuou a pobreza em comunidades que já enfrentavam uma desigualdade social histórica e, aliada a isso, a falta de auxílio do poder público. “É algo que nos angustia”, diz Fernandes.
“A fome é agora, os recursos a gente precisa agora. Não dá para, no século 21, a gente estar passando por uma situação dessas, sem que haja do poder público ações mais efetivas e rápidas”, destaca a pesquisadora.
Eudes Santos perdeu o emprego na pandemia e agora luta para sustentar o filho, de nove meses
Clausio Tavoloni/EPTV
Pão de cada dia
Desempregados e com um filho de nove meses, o auxiliar de limpeza Eudes Moraes dos Santos e a faxineira Mirlene da Silva Bastos Mendes, que residem no Parque Oziel, têm sobrevivido de “bicos” desde que Eudes perdeu o emprego na pandemia. As oportunidades de trabalho, porém, são escassas.
“É triste você abrir sua geladeira, abrir seu armário e ver que não tem o que você precisa. Você trabalha para poder pôr o pão de cada dia na mesa, e às vezes não dá”, desabafa Mirlene. Como todo o dinheiro recebido é voltado à compra de comida, a faxineira conta que, atualmente, a família possui sete contas de água em atraso.
Para a dona de casa Clara Souza de Almeida, as doações são as principais responsáveis pelo sustento dela e dos filhos. Ainda assim, há meses em que a família não tem comida suficiente para todos.
“Eu espero que a necessidade que eu passo, eles [os filhos] não passem. Porque é difícil”, diz a dona de casa, emocionada.
Sem emprego, moradores têm contas atrasadas e armários vazios
Clausio Tavoloni/ EPTV
Como ajudar?
Os interessados em ajudar as famílias que vivem em comunidades de Campinas devem entrar em contato com a Central Única das Favelas pelo endereço de e-mail [email protected] ou nos números de telefone disponíveis no site.
Além disso, o G1 reuniu uma lista de entidades e iniciativas beneficentes na região que precisam de colaborações para seguir com o trabalho.
A página do projeto Conexão Solidária também traz uma relação de instituições que assistem e ajudam na prevenção de famílias carentes durante a quarentena.
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