Apesar do nome não se trata de um escorpião; Quando ameaçado, aracnídeo solta composto que possui cheiro semelhante ao do vinagre. Biólogo flagra escorpião-vinagre no Tocantins.
Não à toa o biólogo João Rafael Marins escolheu a profissão. Quando era criança já se encantava com os bichos enquanto lia revistas infantis que traziam curiosidades sobre a natureza. Em uma das folhas aprendeu sobre um artrópode diferente.
Anos depois, enquanto realizava um trabalho de levantamento de fauna em Barrolândia, no Tocantins, ficou surpreso em finalmente encontrar o animal. “Bati o olho, percebi que era um escorpião-vinagre e fiquei muito feliz por ver ele de perto e conseguir fazer o registro, era algo que eu sempre quis”, conta.
Encontrar um escorpião-vinagre não é algo tão comum, já que são animais noturnos que durante o dia se escondem em troncos podres, pedras e em tocas que eles mesmos cavam. Apesar do nome, não é um escorpião, mas pode facilmente ser confundido com um.
Curiosidades sobre o escorpião-vinagre
Arte TG
“Eles são aracnídeos que possuem semelhanças com os escorpiões verdadeiros, já que ambos têm um par de pedipalpos conspícuos que parecem pinças. Além disso, os escorpiões-vinagre contam com um flagelo que lembra o metassoma, que é ‘cauda’, dos escorpiões”, explica Daniel Castro, o único brasileiro estudando esses animais no Brasil.
Ainda segundo o pesquisador, o vinagre do nome faz referência ao mecanismo de defesa do bicho, que expele um composto químico com alta concentração de ácido acético que libera um forte cheiro de vinagre quando se sente ameaçado.
Comportamento de defesa do escorpião-vinagre
Mas não há com o que se preocupar. “Embora possam ter uma aparência intimidadora, os escorpiões-vinagre são inofensivos ao ser humano. Eles não possuem veneno e não são agressivos. Pelo contrário, a tendência do animal é procurar abrigo para se esconder caso algo o incomode. Se uma pessoa é atingida pelo composto químico de defesa dele, o único problema que pode ocorrer é uma ardência caso o ácido atinja cortes, feridas e mucosas”, diz Castro.
São animais carnívoros que predam besouros, aranhas, grilos, baratas e larvas grandes. Para capturar as presas, o escorpião-vinagre utiliza os pedipalpos. “Essas estruturas são maiores, espinhosas, rígidas e mais capazes de capturar presas móveis se comparadas com as do escorpião verdadeiro. Além disso, os pedipalpos em pinça do escorpião-vinagre também dão o dimorfismo sexual do bicho, no qual as pinças mais longas pertencem a machos adultos, sobretudo por estarem relacionados às disputas por fêmeas entre outros indivíduos”, esclarece Bernardo Egito, biólogo que trabalha com divulgação científica dos artrópodes e, geral.
Egito ainda ressalta que diferente dos demais aracnídeos, os escorpiões-vinagre têm um corpo bem mais esclerosado o que deixa eles robustos e fortes. Esses artrópodes possuem um primeiro par de pernas mais finas para auxiliar no tato ao solo.
“Essas pernas são caracterizadas como ‘anteniformes’ por serem finas como certas antenas de insetos. Estas pernas também servem para conferir um possível alvo para caça, captando informações físicas e químicas sobre se o momento estaria favorável para ele avançar. Basicamente como se estivesse ‘cutucando’ pra avaliar se a situação está propicia a ele conseguir vencer ou não”, finaliza.
O escorpião-vinagre é sensível a variações de temperatura e preferem viver em regiões mais sombreadas.
João Rafael Marins/Arquivo Pessoal