Além de confirmar a primeira morte por dengue neste ano, Campinas (SP) também viu nesta quinta-feira (12) os casos da doença aumentarem 672% em menos de um mês, com o total de registros desde o começo de 2022 saltando de 534 para 4.125. O total já corresponde a quase o dobro das infecções contabilizadas durante 2021 inteiro.
Para entender o motivo do surto da doença e quais as projeções para a sequência do ano, o g1 ouviu o o epidemiologista André Ribas Freitas – veja abaixo perguntas e respostas.
Nesta matéria, você vai saber:
Por que ocorreu um aumento repentino de casos na metrópole?
Por que isso está ocorrendo mesmo após o verão?
O que esperar para os próximos meses?
Há riscos de epidemia?
Quais as preocupações após a primeira morte no ano?
Haverá mais mortes em 2022?
De acordo com a Secretaria de Saúde, a vítima era uma idosa de 78 anos, que morava na região Leste da cidade e morreu no dia 7 de abril em um hospital da rede privada. O óbito mais recente até então, segundo a pasta, havia ocorrido em agosto de 2021. Não há detalhes sobre a vítima.
Ainda segundo o balanço atualizado nesta quinta, a região Sul de Campinas responde por 24,9% de todos os casos confirmados na cidade neste ano. Já a região Leste, de onde era a moradora que morreu, tem o menor número de infecções.
Confira os casos por região:
Sul – 1.028 registros
Norte – 995 registros
Noroeste – 779 registros
Sudoeste – 709 registros
Leste – 614 registros
1. Por que ocorreu um aumento repentino de casos na metrópole?
“O aumento se inicia em janeiro e fevereiro, mas o pico vai ocorrer em março e depois abril. Abril é o pior mês. Essa situação favorece essa questão contábil. Como o pico é agora, e você acumulou os casos que estavam para ser contabilizados e mais os casos de abril, você tem um aumento súbito e bastante forte. Mas ainda não é uma situação que assuste.”
2. Por que isso está ocorrendo mesmo após o verão?
“Como é uma doença que não depende só do ser humano, você tem uma cadeia de transmissão: ser humano-mosquito-ser humano. É como se fosse uma inércia. Você demora mais para começar a transmitir e demora mais para diminuir o número de casos. O pico de temperatura favorece a reprodução do mosquito [Aedes aegypti] e também favorece a replicação viral dentro do mosquito, então isso favorece a transmissão.”
“Como não é imediatamente que o ser humano se infecta depois que o mosquito é infectado, tem uma defasagem, porque o mosquito tem que ficar infectado, tem que picar o ser humano, e o ser humano tem que começar com sintoma. Esse conjunto de passos que têm que ser dado faz com que tenha uma defasagem entre o pico da temperatura e o pico de casos.”
3. O que esperar para os próximos meses?
“A tendência é de que, em maio, já tenha um número menor de casos, mas vai acontecer casos ainda com número importante, mas em junho, julho, isso acabe. Então a gente já está em uma situação, provavelmente, de queda no número de casos agora em maio.”
4. Há riscos de epidemia?
“A minha grande preocupação é com o próximo ano. A gente tem que controlar a dengue no segundo semestre, tem que zerar o número de casos de dengue nos próximos meses. Se não zerar, quando chega o verão, que já tem casos de dengue, a chance de ter uma epidemia é bem maior.”
5. Quais as preocupações após a primeira morte no ano?
“O fato de ter sido um idoso, não que não seja uma perda de vida, é uma perda de vida, mas não é um sinal tão preocupante, porque, em geral, os idosos são mais difíceis de ser manejados do ponto de vista clínico, são pacientes mais vulneráveis, principalmente em uma doença infecciosa que dá uma infecção sistêmica bastante complexa. Normalmente, a morte que a gente consegue evitar, que é um indicador de problemas na assistência, é quando morrem pacientes mais jovens. Para morrer um jovem com dengue, geralmente, é consequência de algum problema na assistência. No caso do idoso, isso não é tão frequente. É comum você manejar adequadamente um paciente idoso, e, mesmo assim, ele acabar evoluindo mal. Isso reforça a importância de a gente controlar a doença.”
6. Haverá mais mortes em 2022?
“É muito difícil [fazer essa análise]. A gente imagina que no segundo semestre, é muito pouco provável que aconteça algum caso de morte, porque o número de casos tende a cair. A preocupação maior é justamente com a questão do controle da doença no segundo semestre. Esse é o grande recado que tem quem ser dado.”
“A gente ficou muito tempo isolado em casa, as pessoas aprenderam até a cuidar mais de seus espaços privados e, assim, controlar a dengue. Mas a circulação de pessoas, a introdução de vírus de outros municípios, daí volta a ter a dengue no radar como um problema de saúde pública novamente.”