A adoção do dólar como moeda oficial em alguns países da América Latina tem gerado debates sobre seus benefícios e desvantagens. Experiências de países como Equador, Panamá e El Salvador mostram que a dolarização pode trazer estabilidade, mas também apresenta desafios significativos.
No Equador, a dolarização foi adotada em 2000 após o colapso da moeda local. Embora tenha ajudado a controlar a inflação, a forte valorização do dólar prejudicou a competitividade das exportações equatorianas, como as rosas, que perderam mercado para países como Colômbia, Etiópia e Quênia. Enquanto as exportações colombianas de flores cresceram 40% desde a pandemia, as do Equador aumentaram apenas 12%.
Além do Equador, Panamá e El Salvador também utilizam o dólar. No entanto, esses países enfrentam dificuldades econômicas devido à valorização da moeda americana. O crescimento econômico projetado para esses países está abaixo da média latino-americana, refletindo os desafios adicionais impostos pela dolarização.
A dolarização implica a perda de uma política monetária independente, o que significa que esses países não podem ajustar suas moedas para responder a choques econômicos externos. No Equador e em El Salvador, os bancos centrais existem, mas não controlam a oferta de moeda nem as taxas de juros, limitando a flexibilidade econômica.
A integração econômica global é um dos benefícios da dolarização, pois reduz os custos de transação no comércio internacional. No entanto, se os bens e serviços de um país não forem competitivos, as vantagens dessa integração podem ser limitadas. Um estudo recente publicado na revista *Applied Economics* concluiu que a dolarização não trouxe benefícios comerciais significativos para a América Latina.
A política fiscal rigorosa torna-se crucial em países dolarizados, já que não podem imprimir dinheiro para cobrir déficits orçamentários. No entanto, Equador, Panamá e El Salvador enfrentam déficits consideráveis e dívidas públicas altas. O FMI expressou preocupação particular com a expansão fiscal de El Salvador, classificando-a como “insustentável”.
Esses desafios são um alerta para líderes como Javier Milei, presidente da Argentina, que propôs a dolarização e o fechamento do banco central como soluções para a crise econômica do país. Embora a dolarização possa eliminar o déficit fiscal e acabar com os controles, a experiência de outros países mostra que essa medida está longe de ser uma solução mágica e pode trazer novos problemas.
Em resumo, a dolarização na América Latina oferece uma lição complexa: enquanto pode trazer estabilidade monetária, também impõe restrições significativas e desafios econômicos que exigem uma gestão cuidadosa e políticas complementares para garantir o sucesso a longo prazo.